Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa
qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter
fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender,
do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura
sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez
em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo
menos entender que não entendo.
Autora - Clarice Lispector
( nº 028 )
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