[Duração: 10 min.]
(Entra ator, senta-se em uma cadeira no centro do
palco ou um pouco a frente, como preferir. Inicia como se estivesse conversando
com alguém.)
ATOR - Você disse que precisava falar comigo? Mas
na verdade, eu é que preciso dizer muita coisa.
Eu... Bem, não queria que tudo terminasse como
terminou. Assim... sem sentido. Acho que tudo ainda ficou meio vago. Não
tivemos nem uma briga decente. Você simplesmente me ligou e disse: “muito
obrigada pelo presente, mas... acabou!” e eu perplexo pelo que havia ocorrido,
simplesmente concordei. Não tive como reagir diante daquilo; não sabia como ou
o que te dizer. Mas agora eu sei. E é por isso que eu vim até aqui.
(Como se fosse interrompido. Blecaute rápido cada
vez que isso acontece.)
Não. Por favor, eu preciso dizer. Não me interrompa
eu apenas preciso que você me escute.
Justo naquele dia, no Natal, no dia do seu
aniversário; após um mês inteiro sem você me telefonar, sem me dar notícias...
Eu te levei os presentes, tanto de Natal quanto de aniversário, e você
novamente não estava em casa. Como quando eu ia à sua casa nesse mês que passou
nunca te encontrava. Talvez isso tenha agravado um pouco a nossa situação. À
distância, a falta de comunicação, e essa mágoa que você tinha guardada de
alguma cagada que eu tenha feito. (Percebendo o que disse.) Desculpe! Justo
nesse dia, eu pensei muito, refleti... Procurei me lembrar de cada uma de
nossas discussões mesmo as bobas; decidi me retratar de todos os meus erros, e
principalmente, de me dedicar totalmente a você – o que eu deveria ter feito
desde o início. A partir daí, eu decidi não te fazer derramar mais nenhuma
lágrima sequer, ainda que de alegria. Mas já era tarde!
E você sempre dizia que eu dava mais atenção aos
meus “amigos”, a outras coisas supérfluas do que a você. Agora eu entendo o que
você estava me dizendo. Na verdade o que você queria dizer era: “Ou eles ou
eu!” ou “Pode ficar com eles, é você quem sabe...” e eu estava te perdendo aos
poucos, sem saber... sem perceber o erro grave a que eu havia me submetido. E
isso pra você, - hoje eu entendo – se tornou uma “bola de neve”, que foi
crescendo... crescendo... e quando eu abri os olhos pra realidade, já havia se
tornado uma avalanche. Avalanche de ressentimentos, de mágoas guardadas a cada
bobagem que eu fazia, ou pior, que eu dizia. Porque foi isso que você me disse
naquela vez quando nos encontramos na casa do meu tio. O que eu havia dito te
magoou demais, e eu, não percebi nada, como sempre.
(Blecaute rápido.)
Por favor, não chore. Não mereço nenhuma de suas
lágrimas.
Não vim até aqui pra pedir outra chance, mas pra
pedir seu perdão!
Uma vez você me disse que havia perdido a confiança
em mim. A partir desse dia eu percebi que nosso relacionamento ia mal. Ainda
que eu não fizesse nada de errado – digo, pelas suas costas – você não confiava
mais em mim, por causa da maneira que eu agia na sua frente! E como você se
magoa com facilidade. Sempre nas horas más – quando discutíamos – você
procurava suas “amigas” e desabafava; naturalmente. Elas eram responsáveis em
te dar o apoio que você sempre encontrava ali. Mas elas também colocavam
minhocas na sua cabeça, eu sei.
(Blecaute rápido.)
Eu sei que já falamos sobre eu não dizer nada de
seus amigos, mas... agora eu preciso dizer tudo o que penso. Me desculpe! Não
posso segurar mais.
Elas diziam que eu te traía! Isso aumentava ainda
mais a sua desconfiança em relação mim – isso foi você mesma quem me disse. E
cada vez que nós discutíamos, ainda que por bobagens, você sempre lembrava
desses comentários de suas amigas, e eu me distanciava cada vez mais de você...
Quando tivemos aquela conversa, eu te disse muito
bem que ainda que tivesse a oportunidade em minhas mãos, jamais teria a coragem
de te trair. Não é do meu feitio! Não saberia viver com essa culpa, porque eu
te amo, poxa!
Eu sei que depois que nós terminamos, eu disse tudo
aquilo nas mensagens que eu te mandei, mas isso foi porque você também disse
várias coisas que não gostei. Só queria revidar; mas nunca te traí, nem pensei
nisso.
O fato é que – não querendo me justificar – eu não
sei (ou não sabia) como retribuir todo amor e dedicação que você depositava em
mim. Eu nunca soube fazer isso. Não sei como é. Talvez porque eu nunca tenha
passado por isso antes. Porque ninguém tivesse me amado dessa maneira. Talvez
fosse apenas uma fase; já que quando eu fui à sua casa, no dia do seu
aniversário, - repito - eu sabia exatamente o que eu deveria fazer para te ter
de volta.
A partir desse dia, eu estava totalmente disposto a
mudar, por você. Eu só tinha prioridades pra você. E você passou a ser o meu
objetivo de vida, a razão d’eu existir. Foi daquele momento em diante, que eu
percebi que eu poderia te perder se não mudasse drasticamente minhas atitudes,
meus sentimentos... Mas, como já disse, era tarde. Eu já havia te perdido na
nossa última discussão, lembra? Antes de ficarmos isolados um do outro por um mês.
Período esse, que serviu pra cravar de vez a “estaca” que faltava no seu
coração, e acabar com todas as chances de eu me redimir. Estou certo? (Tempo.)
(Blecaute rápido)
E como já diz o ditado, que só damos valor ao que
já se foi; percebo quanta falta você me faz agora!
Eu sei que ainda que reatemos nosso relacionamento,
não será mais o mesmo. Afinal, confiança você só tem uma vez, não é?! Também
sei que não tenho como apagar o que eu disse, nem voltar no tempo para impedir
que seja dito. As feridas estão abertas e, sinceramente, não sei como
tratá-las.
Só te peço que me perdoe. Não conseguiria viver com
essa culpa. (Tempo.)
(Blecaute rápido.)
Sim, eu sei que eu acabei com seus sonhos; mas eu
não sabia o que estava fazendo! Eu... (Como se fosse interrompido. Blecaute
rápido.)
É, você tem razão. Eu ainda não sei o que eu estou
fazendo. (Tempo.)
(Blecaute rápido.)
Entendo que você não possa me perdoar. Que não
consiga... Enfim...
(Blecaute rápido.)
Era só isso que eu precisava ouvir!
Mais uma última coisa: “Se a vida te der alguém
melhor que eu; e se seu amor vencer todas as dificuldades... Desejo que você
seja eternamente feliz!” de todo o meu coração.
Adeus!
(Sai.)
-
Blecaute
Autor - Alan Balbino
Interpretação:
Interpretação:
Renato Mesquita
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