Lúcrécia, o veneno dos Bórgias


Nicolau Maquiavel, escritor, dramaturgo, filósofo, historiador. Mas nos dias que correm, prestígio não enche barriga. Tive mesmo é que me empregar como secretário particular de César Bórgia. Nenhum problema, estava em boa companhia. Sob o mesmo teto havia empregados como Michelangelo. Além do salário, o emprego trazia vantagens adicionais para um cronista da época. Viagens aos cenários de guerras. Acesso a intimidade do poder, testemunhando as intrigas palacianas, no palco mesmos das decisões. À confiança de personagens-chave, abrindo o precioso cofre de suas confidências. O registro de acordos e documentos, na hora em que eram feitos e desfeitos. Enfim, um espectador privilegiado, e ator nos bastidores desse espetáculo, que é a História. Pois, como todos já sabem, a política é a arte de enganar os outros, sem que eles percebam, e sem deixar vestígios. Meu patrão, César Bórgia, era um eterna fonte de inspiração e sua irmã, de permanente fascínio. Eu conheci Lucrécia Bórgia! Hoje, se falam horrores dessa dama, mas eu posso garantir que tudo que se diz dela... ainda é pouco. Lucrécia era excessiva, uma pérola cultivada. Exerceu como poucos a virtude do vício, não sendo desprovida de talentos e sentimentos contraditórios. Naquele tempo, não importavam os meios, quando os fins eram o poder, a riqueza e a glória. Talvez os senhores achem difícil de compreender, vivendo numa época tão diferente. Os Bórgia tinham a ambição como um refinamento do espírito. A família era muito unida... O Papa adorava seus filhos, sobretudo Lucrécia...

Autor - Paulo Cezar Coutinho

( nº 030 )

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